sexta-feira, 23 de maio de 2008

Entrevista Exclusiva ao Blog - Clara de Sousa


Blog : Como superou o dilema : professora de inglês ou jornalista?

Clara : Acho que nem se colocou um dilema. Naturalmente a minha experiência diária na rádio fazia muito mais sentido do que o curso superior que estava a tirar. O único dilema que tive na altura foi decidir se desistia do curso ou não. E com 20 anos é muito fácil tomarmos más opções. Mas felizmente optei pelo que considero ser o mais certo. Terminei o curso, sabendo que não iria leccionar, porque a formação académica acaba por revelar-se importante mesmo que trabalhemos noutras áreas. Os meus conhecimentos da língua e literatura inglesa e portuguesa são importantíssimos na minha actividade profissional e também a nível pessoal.


Blog: Sente que foi a melhor opção, ou ainda há uma vontade de leccionar ?

Clara: Nunca mais tive vontade de leccionar.

Blog: Como surge a rádio Parede em 86 ?

Clara: Surge através de um convite em jeito de brincadeira do namorado da minha melhor amiga de infância, que vivia na Parede e que tinha uma série de amigos que estavam envolvidos no arranque da rádio. Ele sabia que eu vivia muito ligada à música e achou que gostaria de participar. Mas nem ele nem eu alguma vez imaginámos que a brincadeira ia tornar-se um caso sério. Nessa fase embrionária chamava-se Rádio Echo. Só um ano depois, com a transferência para as novas instalações nos Bombeiros Voluntários é que se passou a chamar Rádio Clube da Parede.

Blog: Foi uma rampa de lançamento?

Clara: Foi o início de um percurso longo que já leva 21 anos. A primeira vez que coloquei um disco no prato do gira-discos para ser transmitido para casa das pessoas foi em Fevereiro de 1986. Quase há 22 anos. Passou a correr.

Blog : Recorda com saudade os tempos de rádio ?

Clara : Por natureza não alimento a saudade. Vivo o presente, olhando para o futuro, sem esquecer o quão importante foi o passado para construir tudo o que tenho hoje. Nas coisas boas e nas coisas más.
Quando olho para esses tempos relembro sobretudo a inocência e inexperiência de todos nós, o espírito de amizade e de equipa. É desses tempos um dos meus mais importantes grupos de amigos. Mas não me imaginava hoje a trabalhar nas condições precárias em que trabalhávamos então.


Blog : Na rádio fazia programas ou era mais repórter ?

Clara : Fazia de tudo. Lia notícias e fazia reportagem. Montava os registos magnéticos em bobina de fita (ouvia, cortava, colava, montava os sons).
Conduzia programas e gravava spots de promoção da estação e publicidade. Éramos todos extremamente versáteis.


Blog : Os pais e a família sempre aprovaram a escolha profissional, ou achavam que era uma profissão sem futuro?

Clara : Na altura, a única preocupação que eles tinham era a possibilidade de desistir da Faculdade, sobretudo quando comecei a dedicar cada vez mais tempo à Rádio. Pensavam naquilo como uma brincadeira sem futuro. Mas quando a Rádio Clube da Parede fechou e eu entrei para a Rádio Marginal, já legalizada, eles começaram a acompanhar a minha evolução e rapidamente perceberam que o meu caminho seria mesmo por ali. No entanto, nem eles nem eu pensávamos em televisão, até ao dia em que fiz um programa de desportos radicais para a RTP, o “Hé Desporto”. Foi aí que conheci o Pedro Mourinho. Também ele foi pivot do programa. Isto foi no Verão de 1991. Só no final de 1992 fui surpreendida pelo convite da TVI. E a 20 de Fevereiro de 1993 apresentei o primeiro noticiário da 4.

Blog : Formou-se na Faculdade de Letras de Lisboa, sempre foi boa aluna? Quais eram os seus calcanhares de Aquiles?

Clara : Nunca fui uma aluna de notas muito altas. Só nas disciplinas que me apaixonavam, como o Inglês ou o Russo por exemplo. Por regra esforçava-me o suficiente apenas para passar, tanto mais que já sabia que não iria leccionar e a rádio ocupava grande parte do meu tempo.
Eu entrei para a Faculdade em Outubro de 1985 e comecei na Rádio em Fevereiro de 1986.


Blog : Ainda se lembra do seu primeiro noticiário?

Clara : Lembro-me como se fosse hoje. Estávamos todos muito ansiosos, a redacção, na Avenida de Berna, estava cheia de colegas de outras televisões, rádios e jornais. Lembro-me que a repórter da SIC me levou um ramo de flores a desejar boa sorte. Os meus directores preferiram não arriscar nessa noite de 20 de Fevereiro de 1993, sobretudo porque receavam que ocorresse algum problema técnico, e decidiram gravar o noticiário meia hora antes.

Blog : Sente orgulho por ser a única jornalista portuguesa que foi pivô dos 3 principais canais portugueses, ou vê isso como uma maior escola e uma maior bagagem de métodos de trabalho e de aprendizagem?

Clara : Encaro esse percurso com naturalidade. Não é nenhuma bandeira que abane de vez em quando para me vangloriar ou que faça com que me sinta mais do que os outros. Foram fases da minha vida profissional que surgiram como reconhecimento pelo meu trabalho.
Sem dúvida que o facto de ter trabalhado nos principais noticiários dos 3 canais me deu acesso a diferentes métodos de trabalho, diferentes abordagens de alinhamento e diferentes opções editoriais. Enriqueceu-me muito profissionalmente.


Blog : Já aconteceu estar num dia literalmente Não! E ter de apresentar na mesma o noticiaio? Como se gere uma situação dessas?

Clara : Sim, várias vezes. Já passei por fases muito difíceis na minha vida em que não me apetecia sequer sair de casa, quanto mais apresentar noticiários que exigem concentração absoluta e um ar tranquilo e descontraído. Mas faz parte do processo ultrapassarmos as nossas fraquezas e superarmo-nos. Isso sim, deixa-me orgulhosa por ter ido encontrar forças que nem eu própria sentia que tinha nesses momentos.

Blog : E no que respeita as tão engraçadas gaf’s e brancas, pode enunciar alguma?

Clara : Pequenas gaffes, como chamar Hugo Marçal ao meu colega Luís Marçal, no pico do processo Casa Pia, sem me aperceber! É só um dos exemplos. Também já me aconteceu estar tão cansada, tão cansada, quando fazia a Edição da Noite da Sic Notícias, que entrei em dislexia e não conseguia dizer uma sigla de 4 letras. Já não me lembro qual era, mas tentei 3 vezes e não saiu. Optei por seguir em frente.

Blog : Dentro do jornalismo, ainda há algo que não tenha feito mas que gostasse imenso de fazer ou sente que os seus objectivos/sonhos jornalísticos foram atingidos?

Clara : Já fiz basicamente um pouco de tudo, mas gostaria de ter mais tempo disponível para fazer uma grande reportagem ou entrevistas mais longas, em estilo informal, como a que fiz em 2005 ao José Mourinho.

Blog : Quais são os segredos para vingar no mundo jornalístico?

Clara : O jornalista diferencia-se dos restantes quando tem uma marca. Preferencialmente de excelência. Veja-se o caso do Pedro Coelho na SIC. É só um exemplo. Temos mais e de grande qualidade, felizmente, com reconhecimento a nível nacional e internacional.

Blog : Em jeito de brincadeira na família Superstar a Clara tem oportunidade de “despir” a pele da jornalista , mostrando uma Clara que para muitos era desconhecida , o telejornal passou a ter mais audiências?

Clara: Há dias em que temos mais audiência e dias em que temos menos. Não sei responder a essa pergunta e não há nenhum estudo/sondagem que me permita chegar a uma conclusão.

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